LEOPARDO DOM

Espaço reservado a tutoriais e poemas eróticos com a temática do Bdsm

terça-feira, 12 de abril de 2016

ENIGMA DA SUBMISSÃO



A Submissão consentida ou arbitrária sempre foi uma realidade entre pessoas em menor ou maior grau. As sociedades escravocratas – e aqui posso me reportar à antiguidade clássica -   eram divididas entre pessoas livres e escravas. Nesse caso a submissão sempre foi imposta pelo uso da força e da violência. Contrariando essa realidade, vivenciamos hoje, no nosso meio BDSM,  a submissão consentida, na qual homens e mulheres aceitam, via negociação, serem submetidos, subjugados, desempenhando papéis previamente concebidos e consensuados. Eis aqui o nosso objeto de questionamentos.
Como pode ser que uma Mulher ou Homem, que nunca se imaginou submissa/a ou escrava/o, de repente do nada, num momento surreal ou comum de suas vidas serem tocados por sentimentos e desejos dessa magnitude?
Como explicar que um filme ou clip, conto, romance, ou até mesmo uma conversa banal sobre relações de Dominação, dor, sujeição ou controle entre pessoas ditas como normais, culmine num despertar voraz e arrebatador de atração à submissão, os fazendo buscar conhecimentos, informações na procura do submundo BDSM buscando compreenderem seus impulsos e desejos secretos que até muitos acham vergonhosos.
Como justificar que pessoas normais, comuns, que são pais, profissionais, cidadãos, filhos de famílias tradicionais, bem alimentados, orientados, com acesso aos bens culturais ou não, aceitem o papel de serem humilhados, subjugados, maltratados, torturados, marcados fisicamente, degradados, para assim alcançarem a plenitude da realização sexual, desejando ardentemente serem submetidos dias e noites a tais degradantes situações e relações?
Quem afinal pode explicar o comportamento de meninas e mulheres das mais variadas faixas etária de diferentes status sociais e étnicos tornem-se submissas desde tenra idade até a chamada de idade da loba. Por outro lado, homens criados dentro de um constructo machista, autoritários e Dominantes na sua realidade cotidiana escolham tornarem-se submissos, subjugados pelo poder de uma mulher dominadora, reduzidos á condições de animais, feminizados, torturados e nisso alcancem um prazer imensurável.
O que faz uma mulher buscar a submissão, a condição de escrava em contradição total as condições de mãe, profissional, amiga, etc. dentre outras representações sociais que lhe compete; contrariando muitas vezes seus posicionamentos feministas, de combate ao machismo e, sobretudo, a conquista de sua cara autonomia e independência?
Muitas dessas mulheres são casadas, divorciadas, separadas, desquitadas, com famílias e ajustadas profissionalmente, sendo chefes de suas casas, autoridades nos seus papéis sociais cotidianos e como submissas e escravas, desempenham papéis secundários e, dentro da hierarquia D/s, se submetem ao papel de serem inferiorizadas aos seus Donos ou Senhores. Como explicar e quem se atreve a desvendar esses mistérios ou fenômenos sociais do comportamento humano? Seria a Psicologia ou Psicanálise suficientes para elucidar esse Enigma que é a submissão? Ou será que só quem vive nessas realidades ou submundo obscuro pode verdadeiramente lançar luzes nessa verdadeira Caixa de Pandora?
Contudo, procurando lançar apenas pistas, vamos discorrer sobre algumas hipóteses sem pretender esgotar as possibilidades - que são diversas e complexas – Pois, mesmo como Top tenho limites intransponíveis, mesmo sendo um entusiasta desse assunto.
No caso das mulheres, buscando me distanciar de alguns preconceitos incutidos pela formação de Homem, Podemos notar que a memória humana é fruto das relações sociais, culturais e históricas acumuladas no transcorrer de várias gerações. Nesse sentido, as divisões de trabalho por gênero nas primeiras sociedades humanas possa ser uma das explicações, posto que nelas estão instituídos os papéis que cada um deveria desempenhar dentro da produção da própria existência. Em muitas sociedades, incluindo a nossa, as mulheres eram tratadas como sendo entes inferiores, sendo objetificadas, servindo como procriadoras e mercadoria sexual. Até hoje podemos observar isso, basta prestar a atenção nas propagandas das mídias em que o corpo feminino sempre está evidenciado até mesmo em contextos que o erótico não cabe.
Na nossa realidade pós-moderna, vemos as lutas pela emancipação feminina, nas quais as mulheres reivindicam melhores condições de trabalho igualdade de direitos etc. Muitas carregam traumas de abusos, estupros, assédios variados, marcadas por familiares (pais, maridos, irmãos, etc.) ou estranhos. Situações essas tão adversas e mesmo assim, buscam encontrar na submissão as respostas de aceitação a suas condições sociais e psicológicas (superação do trauma, como a rejeição de ser mulher) .
Por outro lado, vemos muitas mulheres buscarem na submissão, um padrão sexual e afetivo que não encontram em suas vidas cotidianas, preencher lacunas e carências afetivas. Logo, as práticas inerentes ao BDSM e, no caso da D/s, realizarem-se, já que para elas a D/s representa mais que o controle e Dominação per si, mas segurança, afetividade, reconhecimento, resgate, etc.
Além desses elementos, as mulheres nascem com o estigma de ser o elemento perigoso e por isso mesmo sentiram por séculos a interdição de seus corpos, a condenação de não poderem desfrutar dos prazeres físicos e gozarem, pois seus orgasmos as faziam indignas, bruxas, etc.
Mesmo nos dias atuais com as mudanças ocorridas na sociedade em que estão mais participativas, das vitórias advindas do movimento feminino mundial, a satisfação e realização sexual delas ainda estão entre as grandes causas de suas frustrações. Não raro, muitas buscam nas D/s alcançarem a satisfação sexual mitigada.
Analisar a condição dos homens nessa mesma condição de submeter-se mesmo parecendo ser simples, também é bastante complexa. Pois que sentido faz àquele que detém o poder absoluto desde tempos imemoriais, historicamente colocado como gênero dominante, buscar na sujeição serem conduzidos a serem inversos ao papel que lhes é de direito instituído e com isso alcançarem satisfação e prazer?
Muitos buscam explicar esse comportamento por explicações rasas e diz-se inclusive que muitos têm a necessidade de se despojar do seu papel social e de terem que ser machistas e egoístas o tempo todo. Nesse sentido, a subjugação para o homem não advém de nenhum complexo de inferioridade, ou realização sexual e sim como resposta do seu alter ego.
Não podemos negar que, independente das explicações e análises, históricas, culturais, a submissão consentida é uma escolha consciente entre pessoas equilibradas, logo, há mulheres que não encontram numa apenas relação D/s reequilíbrio emocional, mas, a sua verdadeira realização, para além de qualquer estereótipo sexual. Contudo, vemos se proliferarem histórias de abusos, exploração financeira, estupros físicos e psicológicos não consensuais, ou seja, que romperam as fronteiras daquilo que foram negociados etc., principalmente entre iniciantes no meio BDSM. E você como você ver a questão da submissão? Como essa situação num todo te afeta ou te acrescenta?




Leopardo Dom

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